quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Gêneros Textuais: Definição e Funcionalidade

O que há de mais novo no que se refere ao estudo da linguagem são os gêneros textuais. Essa corrente de investigação é recente e aponta o trabalho com gêneros de texto como um caminho mais eficiente para o ensino da língua. Entre os pesquisadores que vem investigando essa área está Luiz Antônio Marcuschi, professor universitário, de quem encontramos vasto material sobre o assunto.
“Gêneros textuais: definição e funcionalidade” é o artigo introdutório do livro Gêneros textuais e ensino (2002), organizado por Ângela Paiva Dionísio, Anna Raquel Machado e Maria Auxiliadora Bezerra. O autor preocupa-se em esclarecer o conceito de gênero e algumas noções importantes para essa compreensão. Também tece considerações sobre gêneros ligados aos meios de comunicação que podem ser trabalhados em sala de aula.
Marcuschi define gêneros como eventos textuais que contribuem para ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do cotidiano. São fenômenos históricos, maleáveis e dinâmicos, já que surgem para suprir necessidades e atividades sociais e culturais. Portanto, configuram-se também como uma forma de ação social. Ou seja, gêneros textuais são entidades sócio-discursivas, cujo surgimento vem sendo influenciado enormemente pelo uso intenso de novas tecnologias. Desta forma, ocorre a transmutação de gêneros ou a assimilação de um gênero por outro, originando formas inovadoras. Esses gêneros emergentes apresentam características próprias, como a apropriação de termos da oralidade e a maior integração entre diferentes gêneros e códigos comunicativos.
Entretanto, o conceito de gênero frequentemente é confundido com tipo textual. Marcuschi faz essa distinção. Para ele, gêneros de texto são realizações lingüísticas concretas, que cumprem funções em situações comunicativas. Formam um conjunto aberto, ao contrário dos tipos textuais, que se restringem a descrição, narração, exposição, argumentação e injunção. Observa-se que essas noções, consideradas como gêneros de texto nas escolas, constituem, na verdade, tipos textuais, ou seja, constructos teóricos definidos por sua natureza lingüística. Estes aparecem no interior dos gêneros, sendo que “um texto é em geral tipologicamente variado (heterogêneo)” (p.25). O pesquisador também apresenta as definições de domínio discursivo, texto e discurso. Domínio discursivo é uma esfera de produção discursiva ou de atividade humana que propicia o surgimento de gêneros específicos; texto é uma entidade concreta corporificada em um gênero; discurso são os efeitos do texto ao se manifestar em uma instância discursiva.
Segundo o autor, para classificar um texto em determinado gênero é preciso considerar diversos aspectos, como as funções comunicativas, a forma (aspectos estruturais e lingüísticos), o suporte e o ambiente em que é veiculado. No entanto, para Marcuschi, “os gêneros textuais caracterizam-se mais por suas funções comunicativas, cognitivas e institucionais do que por suas peculiaridades lingüísticas e estruturais” (p.20). Além disso, o autor lembra que muitos textos apresentam uma configuração híbrida, sendo que o formato de um gênero é utilizado com a função de outro. Esse processo denomina-se “intertextualidade inter-gêneros” e distingue-se da heterogeneidade tipológica, definida por Marcuschi como a presença de vários tipos textuais em um mesmo gênero.
Por fim, o autor sugere a leitura, análise e produção de gêneros textuais, falados e escritos, literários ou não, como uma forma de trabalho com a língua “em seus mais diversos usos autênticos no dia-a-dia” (p.35). E apóia sua posição na Lingüística Aplicada, pois a língua é trabalhada em um contexto comunicativo real, não através de enunciados soltos ou de gêneros que circulam apenas no universo escolar.
A definição de conceitos que Marcuschi apresenta é fundamental para a compreensão do tema e para o trabalho com gêneros textuais. No entanto, o autor não faz a distinção entre gênero e texto. Ambos são definidos como realizações lingüísticas concretas, que cumprem uma função comunicativa. Ao longo do artigo, esses termos chegam a ser tratados como sinônimos. De acordo como Zanotto (2005), gênero é um “agrupamento de textos com características comuns”, enquanto texto é uma unidade lingüística concreta, com propósito comunicativo. Esse autor nos oferece uma distinção clara e funcional entre ambos.
A proposta de trabalho com gêneros defendida por Marcuschi é uma nova perspectiva para o ensino da língua. Sua fundamentação na Lingüística Aplicada dá a impressão de que esse é o caminho buscado há tanto tempo por professores de Língua e Literatura, frustrados com os resultados obtidos através das estratégias de trabalho tradicionais. O ensino baseado na gramática, na coesão textual e nas modalidades retóricas mostrou-se ineficiente para o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita dos alunos, como afirma Meurer (2000). Embora Marcuschi apresente um caminho, não demonstra como o trabalho pode ser desenvolvido, na prática. Está claro que esse não é o objetivo da introdução de um livro. Mas fica um gostinho de “quero mais”. Talvez seja o caso de se ler o livro todo. A julgar pelo primeiro capítulo, vale a pena.

3 comentários:

  1. Olá !!! Você poderia explicitar a referencia do livro do Marcuschi, por gentileza. Obrigada.

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  2. ola!!! sera que vc poderia colocar a referencia do livro de Marcushi? Qual o nome dele?

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  3. Livro muito bom que se chama "Gêneros Textuais e ensino"
    Segue o link (totalmente confiável) com o PDF do livro!Se seu computador tiver suporte a pdf no navegador, ele abrirá direto, caso não tenha um download vai ser anunciado! Bons estudos e ABRAÇOS!
    http://www.martinsfontespaulista.com.br/site/PDFs/Capitulo1/122864.pdf

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